Ando novamente procurando uma metáfora que caiba na exata medida do que tenho em mente. Enquanto procuro, decidi resgatar esse antigo texto, que - estranhamente - diz alguma coisa do tempo atual, que difere em quase tudo daquele outro, exceto por esta busca.
Andei pela casa em busca de uma metáfora. Vasculhei meus livros, tirei o pó de velhos cadernos, reli revistas antigas, passei os olhos por cada detalhe à minha volta. A avidez de meus olhos chegava a doer. E nada. Abri a porta e fui até a rua.
Vislumbrei a passagem apressada dos carros, enquanto o ronco dos motores nada me dizia de analogias e simbolismos, apenas a realidade ecoava explicitamente pela rua. Realidade absurda e triste, como tudo de que a metáfora se ausenta. Senti meus pés tocando a parte interna dos sapatos, por onde passava o calor da calçada banhada de sol. Pareceu-me sem nexo algo tão perceptível ao tato. O sol sem nenhuma metáfora aquecia a calçada, que aquecia meus sapatos sem poesia audível.
Decidi voltar para minha escrivaninha e postar-me diante da brancura do papel, que me implora que escreva algo. Ele solicita que o presenteie com palavras, ainda que não importe o que elas digam, nem que digam algo. Eu me adianto como quem sabe o que irá compor, mas se já o soubesse estaria composto e não seria um infindável vir-a-ser. Vir-a-ser escrito, vir-a-ser dito, vir-a-ser. E como não encontro a metáfora, começo a comer bolachas secas. Como-as e não as sinto, porque as devoro como se devorasse a mim mesma. Consumo-me em um vazio de significações ou reflexões. Apenas existo ali, comendo bolachas sem apetite ou necessidade. Existo sem apetite no vazio da brancura que me pede uma metáfora.
Mas a metáfora meteu-se longe, fora de mim. Fora do meu alcance. E sofro as saudades do futuro. Futuro que não adivinho ou predigo. Saudade das palavras que hei de escrever e que hão de falar tanto. Falarão dos sonhos que nasceram e voaram e ressurgiram mais adiante. Dirão das tensões e dos sorrisos, dos silêncios e das lágrimas, sem usar nenhuma destas palavras.
Somente alguns poderão ver através dos interstícios dos grafismos que comporão os simbolismos lingüísticos. Penso tudo isso e perco-me desfeita em leite viscoso que escorre no papel. Acordo de mim mesma, do delírio que sou, da alucinação que alimenta-me. Diante de mim, continuam o papel intacto, a caneta emudecida, as mãos inertes e o tempo que foge de mim e de tudo.
O tempo passa e eu não o vejo passar. Apenas sei que ele passa. De repente, sinto um impulso de erguer-me da cadeira. Volto a circular pela casa, recomeço a busca pela metáfora que venha tecer com muitas cores um belo desenho em que seu avesso seja simples e puro. A metáfora continua fora de mim e eu vou dormir, morrer por um pouco, para reviver mais tarde com novas forças e talvez iluminada por uma palavra, uma imagem, uma cena, um pensamento.
Vislumbrei a passagem apressada dos carros, enquanto o ronco dos motores nada me dizia de analogias e simbolismos, apenas a realidade ecoava explicitamente pela rua. Realidade absurda e triste, como tudo de que a metáfora se ausenta. Senti meus pés tocando a parte interna dos sapatos, por onde passava o calor da calçada banhada de sol. Pareceu-me sem nexo algo tão perceptível ao tato. O sol sem nenhuma metáfora aquecia a calçada, que aquecia meus sapatos sem poesia audível.
Decidi voltar para minha escrivaninha e postar-me diante da brancura do papel, que me implora que escreva algo. Ele solicita que o presenteie com palavras, ainda que não importe o que elas digam, nem que digam algo. Eu me adianto como quem sabe o que irá compor, mas se já o soubesse estaria composto e não seria um infindável vir-a-ser. Vir-a-ser escrito, vir-a-ser dito, vir-a-ser. E como não encontro a metáfora, começo a comer bolachas secas. Como-as e não as sinto, porque as devoro como se devorasse a mim mesma. Consumo-me em um vazio de significações ou reflexões. Apenas existo ali, comendo bolachas sem apetite ou necessidade. Existo sem apetite no vazio da brancura que me pede uma metáfora.
Mas a metáfora meteu-se longe, fora de mim. Fora do meu alcance. E sofro as saudades do futuro. Futuro que não adivinho ou predigo. Saudade das palavras que hei de escrever e que hão de falar tanto. Falarão dos sonhos que nasceram e voaram e ressurgiram mais adiante. Dirão das tensões e dos sorrisos, dos silêncios e das lágrimas, sem usar nenhuma destas palavras.
Somente alguns poderão ver através dos interstícios dos grafismos que comporão os simbolismos lingüísticos. Penso tudo isso e perco-me desfeita em leite viscoso que escorre no papel. Acordo de mim mesma, do delírio que sou, da alucinação que alimenta-me. Diante de mim, continuam o papel intacto, a caneta emudecida, as mãos inertes e o tempo que foge de mim e de tudo.
O tempo passa e eu não o vejo passar. Apenas sei que ele passa. De repente, sinto um impulso de erguer-me da cadeira. Volto a circular pela casa, recomeço a busca pela metáfora que venha tecer com muitas cores um belo desenho em que seu avesso seja simples e puro. A metáfora continua fora de mim e eu vou dormir, morrer por um pouco, para reviver mais tarde com novas forças e talvez iluminada por uma palavra, uma imagem, uma cena, um pensamento.
Texto escrito em:
Fortaleza, 26 de dezembro de 2000