sexta-feira, 28 de abril de 2006

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Dias claros

Os dias claros finalmente chegaram.Passear pelo parque, sentir o sol bater sobre nossas cabecas da-nos um prazer incomparavel.
Tenho jogado algumas moedinhas na fonte, a espera que alguma encontre seu caminho e traga meus desejos ate mim. Ontem ouvi o tilintar de uma delas. Estou agora sentada a beira da fonte, a espera de ver algum brilho diferente em meio as aguas.

terça-feira, 25 de abril de 2006

Quem é ela?

Encontrei-a um dia desses por acaso. Mulher pacata, que vive para seu lar. Costura, cozinha, limpa, lava e algumas vezes passa. Não tem uma vasta biblioteca, mas uns poucos livros, os quais já leu e já não tem muito apetite para voltar a ler. Dizem que não usa agenda para marcar seus compromissos, porque não precisa. Em seu lugar tem um calendário de parede, que utiliza da mesma forma que o relógio: apenas para situar-se no tempo. Aliás, ela tem especial talento para a desorientação e não raras vezes não sabe em que dia do mês se encontra, ou ainda o dia da semana. Há bem pouco tempo voltou a diferenciar os dias comuns dos finais de semana, mas a passagem só lhe vem aos sentidos à sexta-feira à noite. Fala pouco, não tem um repertório muito rico e volta e meia repete-se, conta e reconta histórias velhas, cita sempre os mesmos autores de anos seguidos, e todas as novidades que sabe chegam pelo radio, ou pela TV, ou pela boca de alguém que visita o mundo fora de casa. Não costuma fazer muitos planos, por ter tantas dúvidas sobre tudo que fica inerte. Fico aqui pensando em quem sera esta mulher? Às vezes tenho a nítida impressão de já tê-la visto antes. Às vezes ela parece com alguém que conheço, mas não me lembro quem. Talvez seja personagem de algum livro que li, e minha mente faz trapaça e confunde-me. Não posso afirmar que eu a tenha encontrado antes. Não posso afirmar que alguma vez tenha visto seu rosto, antes de agora. Mas de tão estranha ela parece-me familiar. Se ela ao menos falasse um pouco mais, se dissesse coisas que fizessem algum sentido. Mas em lugar disso ela fica calada ou formulando frases repletas de não-seis e não-possos. Chama-se Maria, foi o que descobri há pouco. Entretanto ela própria parece não saber disto ao certo, pois sempre que pronunciam seu nome ela reage como se falassem de outra pessoa, e só depois de um certo tempo, ela parece lembrar-se que é dela que falam. Talvez seja um nome falso, talvez um pseudônimo. Quem sabe ela esconde uma identidade secreta, por algum motivo misterioso? Isso seria estimulante. Pensando bem, duvido que seja isso. Seja como for, quero descobrir quem é esta mulher que vive tão perto de mim, sendo uma completa estranha.

domingo, 23 de abril de 2006

Para onde ela foi?

Procuro por ela e não vejo seu sinal. Parece que ela sequer existiu algum dia. Lembro-me dela pisando firme, trilhando seu caminho de cabeça erguida, certa de seu valor e seu potencial, embora a dúvida sempre tenha lhe feito companhia. Ela andava de mãos dadas com amigos caros, com coolaboradores bondosos e pessoas com quem compartilhava amor. Guardava mistérios indecifráveis, nascidos da poesia pessoana e do seu jeito todo particular de ler e interpreter o mundo à sua volta. Muitos se sentiam inspirados por sua determinação, outros desafiados por seus enigmas, outros protegidos por sua coragem e força, e uns poucos, ofendidos por sua obstinação e teimosia. Pensando bem, ela não deve ter existido nunca, em lugar algum, fora da minha imaginação fértil. Alguém que guardava dentro de si uma escritora latente, uma artista cujos quadros surgiriam e viveriam de sombras, uma amiga fiel, uma sonhadora convicta, não poderia desaparecer como fumaça. Ela iria publicar seus livros, tocaria muitos corações com suas palavras, faria nascer um mundo onde seus semelhantes mais remotos poderiam habitar e escapar da solidão amarga dos incompreendidos, saltando por uma janela que traria a visão do céu de Ícaro sem o risco da queda fatal. Onde ela terá guardado seus propósitos, seus projetos de beleza? Teria ela delegado a alguém, as tarefas que tanto desejava fazer? Teria desaparecido sem cumprir sua missão? Diante de tantas indagações sem resposta sou forçada a reconhecer que ela só pode ter sido um sonho, do qual acordei sem me dar conta de que estava dormindo. Achego-me às janelas que ela tanto amava e percebo que todas trazem cortinas cerradas, como véus protetores de castidade. Quase posso vê-la ali, ao pé da janela da sala, tentando ver através da trama do tecido, com as mãos inertes, impedidas de decerrar o véu. Sei que ela esteve ali, que pôs as mãos nas cortinas, sem conseguir ver o dia claro que se mostrava do outro lado do pano. E ela que havia nascido para a luz, para a imensidão dos céus, para os vôos altos, ao achar-se privada da liberdade de viver sua essência, deixou-se dissolver, sentada numa cadeira fria, numa sala vazia, coberta pela penumbra ao pleno meio-dia, no meio da primavera. Encontrei a cadeira vazia e um perfume seco de lágrimas enchendo a sala. Nunca tinha sentido o cheiro de lágrima, mas o reconheci imediatamente, bastou-me sentar na cadeira e tocar o tecido que veste a janela. Fecho os olhos e ainda agora quase posso vê-la, trazia um livro numa das mãos, enquanto a outra fazia poesia sobre um qualquer papel e seus olhos mergulhavam na imensidão do oceano que ela planejava cruzar um dia. Vejo-a ora rodeada de pequeninos, ora rodeada de graúdos, ora diluída na multidão. Vejo-a tão nitidamente real e palpável que custa-me admitir que tenha sido uma ilusão. Volto ao dia em que ela, ainda menina tornando-se mulher, ficou apaixonada pela luz matinal que invadia o quarto de uma amiga mais afortunada, que tinha uma janela imensa, vestida apenas por um delicado véu transparente, cujo amarelo deixava-se invadir pela luminosidade, parecendo que a janela estava nua. Durante muito tempo, ela sonhou com o dia em que teria sua própria janela generosa. Abro os olhos e as janelas de hoje são tantas e tão generosas quanto aquela, mas ela não colheu essa generosidade de luz, graças a possíveis olhos intrusos que poderiam aproveitar a carona e entrar junto com o sol, capturar sua beleza e roubar seu coração. Foi nesse momento que ela desejou ardentemente transubstanciar-se em Rapunzel, protegida em sua torre, livre dos olhos ladrões de coração, à solta no mundo lá embaixo. No alto da torre poderia banhar-se de luz, mas não poderia alçar seu vôo vital rumo à amplidão e por isso desceu da torre antes mesmo de subí-la. Preferiu deixar-se dissolver, evaporar, sumir. Foi brincar de inexistir. Apesar disso, em mim permanence essa sensação de lhe ter tocado as mãos, beijado as faces. Sensação estranha diante de uma enorme ausência que não se contrapõe a uma presence, já que se trata de alguém que eu mesma criei, para sentar-me com ela, com as lembranças que compus. Ouço suas queixas tantas. Enfado-me de suas críticas, auto-críticas e reclamações. Deixo-me invadir por seu espírito sempre insatisfeito e seu hábito de falar minunciosamente de tudo, dando a cada ínfimo detalhe a relevância de um grande evento. Encanto-me com seu jeito exagerado de amar e desamar. Extremada no amor, como no ódio, no unir-se de forma visceral como no separar-se de forma definitiva. No crer, como no duvidar. Por ser extremada assim foi que me deixou apenas esta cadeira, esse cheiro seco de lágrima e as janelas cerradas. Seu hábito de optar pelos extremos levou-a a escolher a negação total e irrestrita, tão ampla que nada escapou à sua desaparição e desexistência, ou desistência do existir. Sobrei eu, vazia dos sonhos que aprendi com ela, vazia da mínima chance de realizá-los. Presa a este vazio de quem se olha no espelho à procura da própria cara e dá de cara com um vidro transparente sobre uma parede branca. Os olhos que haviam se preparado para visualizar o rosto não sabem o que fazer diante do branco inerte sem face. É assim o vazio que conheço desde que me sentei nesta sala escurecida por decreto. Assim, sem ela, nem me apetece abrir as cortinas. O bege do pano basta-me. Enxergo através de uma transparência que guardo em meu olhar, através da qual vejo a imagem daquela que não tendo existido dá-me a impressão falsa de que eu existo. Aturdida por pensamentos paradoxais, abandono a cadeira e vou à rua ao encontro da gente que povoa este mundo. Quem sabe encontro alguém que me dê notícias daquela que desapareceu como fumaça, deixando atrás de si um rastro de inexistência. Então vejo os rostos. Todos sem forma definida, fisionomias que não evocam lembrança qualquer que seja, cores e formas que não me lembram nada. Pergunto a uma jovem sem rosto se viu a minha desaparecida. Numa língua estranha ela me conta que viu uma estranha passar por esta rua, como se andasse perdida ou esquecida. Mas não se tratava da mesma pessoa, concluí. A perdida e esquecida chamava-se Maria e do pouco que podia ouvir de sua voz, não falava de beleza, nem mesmo de coisas racionais. Suas frases pareciam colchas de retalho que haviam sido montadas com pedaços unidos ao acaso, sem estreita relação entre cores e texturas. Nunca a ouviram falar de poesia e nem usava metáforas. Em nada se parecia com aquela que evaporara, que inventara o jogo da inexistência. Era outra pessoa.


Digg!

quinta-feira, 6 de abril de 2006

35 veroes e tres primaveras


Antigamente eu ouvia as pessoas contarem os anos de vida em numeros de primaveras. finalmente essa contagem tem algum sentido pra mim. Iria dizer que hoje completo 38 primaveras, mas imediatamente tomei consciencia de que so muito recentemente passei a contabilizar a vida pela primavera.

Finalmente a primavera se estabeleceu a minha volta. Tenho as janelas abertas, todas elas e um sol lindo e morninho brilha la fora. Nao chove, nal faz frio, o ceu parece que nunca sequer conheceu o conzento. Hoje o ceu esta azul, limpido e claro, sem nem um sequer floco de nuvem (as nuvens tambem vem em flocos?).

Durante 35 veroes, eu tinha um nome, uma identidade, uma vida real povoada de sonhos de voos razantes e ousados. Ha tres primaveras atendo por outro nome, que apesar de me pertencer e fazer parte da minha enorme lista de nomes, sendo inclusive o primeiro de todos, foi exatamente aquele que jamais aceitei bem. Nunca me senti nomeada por aquele nome, nunca ele pareceu me pertencer, principalmente por pertencer a tantas que nao poderia pertencer a nenhuma delas. Desde que passei a renovar a idade junto com a chegada da primavera, virei a Maria, para os amigos e missers vinra, para os estranhos. Junto com o novo nome velho, e novo nome novo, veio um tambem novo sentimento a respeito de mim mesma. Sou a mesma que sempre quis voar, mas hoje contemplo horizontes diferentes e o ponto de onde vislumbro a imensidao, muda todas as rotas de voo que eu havia imaginado. Encontro-me no ponto de partida, sem conhecer ao certo o de chegada. Segura estou somente dos meus companheiros de viagem, aqueles que desejo profundamente que voem comigo o mais longo tempo possivel, um tempo infinito.

Estou feliz nessa terceira primavera!


*Originalmente publicado em outro blog. (Depois voltocpara colocar os devidos acentos)

35 verões e 3 primaveras

Antigamente eu ouvia as pessoas contarem os anos de vida em números de primaveras. finalmente essa contagem tem algum sentido pra mim. Iria dizer que hoje completo 38 primaveras, mas imediatamente tomei consciência de que só muito recentemente passei a contabilizar a vida pela primavera. Finalmente a primavera se estabeleceu à minha volta. Tenho as janelas abertas, todas elas, e um sol lindo e morninho brilha lá fora. Não chove, não faz frio, o céu parece que nunca sequer conheceu o cinzento. Hoje o céu está azul, límpido e claro, sem nem um único floco de nuvem (as nuvens também vêm em flocos?). Durante 35 verões, eu tinha um nome, uma identidade, uma vida real povoada de sonhos de vôos razantes e ousados. Há três primaveras atendo por outro nome, que apesar de me pertencer e fazer parte da minha enorme lista de nomes, sendo inclusive o primeiro de todos, foi exatamente aquele que jamais aceitei bem. Nunca me senti nomeada por aquele nome, nunca ele pareceu me pertencer, principalmente por pertencer a tantas que não poderia pertencer a nenhuma delas. Desde que passei a renovar a idade junto com a chegada da primavera, virei a Maria, para os amigos e Mrs vinra, para os estranhos. Junto com o novo nome velho e o novo nome novo, veio um também novo sentimento a respeito de mim mesma. Sou a mesma que sempre quis voar, mas hoje contemplo horizontes diferentes e o ponto de onde vislumbro a imensidão, muda todas as rotas de vôo que eu havia imaginado. Encontro-me no ponto de partida, sem conhecer ao certo o de chegada. Segura estou somente dos meus companheiros de viagem, aqueles que desejo profundamente que voem comigo o mais longo tempo possível, um tempo infinito. Estou feliz nessa terceira primavera!