quinta-feira, 6 de abril de 2006
35 verões e 3 primaveras
Antigamente eu ouvia as pessoas contarem os anos de vida em números de primaveras. finalmente essa contagem tem algum sentido pra mim. Iria dizer que hoje completo 38 primaveras, mas imediatamente tomei consciência de que só muito recentemente passei a contabilizar a vida pela primavera. Finalmente a primavera se estabeleceu à minha volta. Tenho as janelas abertas, todas elas, e um sol lindo e morninho brilha lá fora. Não chove, não faz frio, o céu parece que nunca sequer conheceu o cinzento. Hoje o céu está azul, límpido e claro, sem nem um único floco de nuvem (as nuvens também vêm em flocos?). Durante 35 verões, eu tinha um nome, uma identidade, uma vida real povoada de sonhos de vôos razantes e ousados. Há três primaveras atendo por outro nome, que apesar de me pertencer e fazer parte da minha enorme lista de nomes, sendo inclusive o primeiro de todos, foi exatamente aquele que jamais aceitei bem. Nunca me senti nomeada por aquele nome, nunca ele pareceu me pertencer, principalmente por pertencer a tantas que não poderia pertencer a nenhuma delas. Desde que passei a renovar a idade junto com a chegada da primavera, virei a Maria, para os amigos e Mrs vinra, para os estranhos. Junto com o novo nome velho e o novo nome novo, veio um também novo sentimento a respeito de mim mesma. Sou a mesma que sempre quis voar, mas hoje contemplo horizontes diferentes e o ponto de onde vislumbro a imensidão, muda todas as rotas de vôo que eu havia imaginado. Encontro-me no ponto de partida, sem conhecer ao certo o de chegada. Segura estou somente dos meus companheiros de viagem, aqueles que desejo profundamente que voem comigo o mais longo tempo possível, um tempo infinito. Estou feliz nessa terceira primavera!