Sempre gostei de enigmas, sempre amei as metáforas e sempre gostei do mistério que há debaixo das coisas e dos seres. Nos últimos anos, fui sendo cada vez mais tomada por uma necessidade de guardar-me entre minhas palavras e expressar-me através do meu silêncio. Acho que tenho mudado móveis de lugar, como numa tentativa de sentir o espaço sempre renovado. Se antes eu falava demais, falava de tudo e de nada, detalhava o que nem sempre precisava de tantos detalhes, se transbordava minhas explicitudes para não revelar minhas implicitudes, agora tinha posto o sofá no quarto e a cama na sala. Já tinha começado a cozinhar no banheiro quando deparei-me com o desejo de buscar uma nova ordem. Talvez essa nova estrutura tenha de certa forma me desestruturado para criar uma outra.O crônicas de uma estrangeira. faz parte desse novo movimento de resgate do direito de falar a língua dos homens, a língua do mais simples dos mortais. Minhas metáforas estarão sempre comigo, elas me encantam e me protegem, mas não quero que elas me prendam. Por isso, o estrangeira tem sido uma porta entreaberta. Gosto de poder guardar-me do lobo-mau que pode rondar a floresta, mas também gosto de instigá-lo, cutucá-lo com vara curta e nem sempre correr. E por mais que eu tente ser explícita, sempre serei o que sou, o que cada um de nós de fatoée: um mistério até para si mesmo.
Tão bom saber que você caminha ao meu lado pela estrada afora, vindo o lobo ou não, e assim, pela estrada afora não vou bem sozinha nem levo doces para ninguém.
Crônica escrita em: 12.05.06
Um comentário:
e que venha o lobo, que lhe tragam doces, que a estrada lhe revele cada vez mais de você e do mundo...
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