Durante algum tempo vivi apenas o papel de mãe e o de esposa, dedicada em tempo integral aos afazeres de casa e a uma ou outra atividade, como pintar, escrever, criar coisas com tecidos - como minhas próprias bolsas - e algumas vezes a este blog e a outras atividades amenas.
Dedicar-me integralmente ao papel de mãe foi provavelmente uma das mais gratificantes escolhas que já fiz na vida. Meu filho é uma pessoa adorável e nesse tempo aprendi muito com ele, com nossa convivência familiar, com nossa vida nessa terra fria. Vendo meu filho crescer e ganhar a cada dia um pouco mais de independência, e ver seu próprio encanto com as novas possibilidades, suas tentativas diárias de avançar nos próprios limites e ir além do que foi no dia anterior, tem me feito muito bem.
Em meados do ano passado tive meu projeto de doutorado aceito por uma universidade altamente bem reputada no campo da pesquisa e, desde então, iniciei a vivência de um papel relativamente inédito. Muito embora eu tenha um passado acadêmico que me traz satisfação, não tenho em meu passado a experiência de me dedicar exclusivamente aos estudos. Desde que passei da fase da adolescência, estudar e trabalhar ao mesmo tempo sempre foi minha realidade. Essa experiência rendeu-me muita aprendizagem e um senso de responsabilidade muito forte. Por outro lado, as limitações de tempo marcaram cada fase da minha vida com uma sensação constante de não ter lido tudo, de não ter escrito como queria, de não ter parado para refletir longamente sobre certos assuntos. A pressa cotidiana me ensinou a absorver tudo de forma rápida e prática, e aliar eficiência a otimização do tempo.
Os tempos agora mudaram, a realidade recente novamente me surpreende com mudanças gigantescas para as quais nem sempre sei se estou preparada. Ao mesmo tempo que entro numa fase nova com meu filho, compartilhando seus momentos de independência, suas primeiras aventuras fora de casa, longe dos olhos do papá e da mamá, preparo-me para receber minha primeira filha, para começar tudo de novo. Paralelo a isto vou experimentar o exercício dos papéis múltiplos e a escolha consciente de abrir mão daquele tempo precioso dedicado exclusivamente a esta pequenina que ora chega.
Sentada ontem em meu pequeno e aconchegante cantinho na universidade, pensando nessas coisas enquanto me preparava para uma reunião, pensando novamente depois, e mais uma vez quando estava a caminho de casa, cheguei a uma conclusão revigorante: o tempo é este. Minha hora é agora! Agarro a bênção com as duas mãos e sigo feliz da vida, apesar dos medos e das incertezas, sempre presentes em tudo que faço.
2 comentários:
100% de certeza a gente nunca tem, não é verdade? Mas é assim que é: a gente vai de coração aberto e decide conforme o que a gente pode e acredita naquele momento. E daí pra frente, é viver e deixar viver. Toda escolha feita de coração aberto é a melhor. Mesmo que afinal não seja. Entende?
Quando deixei pra trás Fortaleza pra vir fazer meu mestrado aqui em Bsb, tive esse mesmo sentimento de medos e insegurança qto a minha capacidade. Qdo começou o curso percebi que eu era uma das alunas mais velhas da turma. Aquilo de alguma forma me inibia as ao mesmo tempo me impulsionava pra frente, como se todo o tempo que tinha para perder na vida, já tivesse sido (in)devidamente utilizados. Eu só tinha uma opção: correr e correr contra o tempo. Hoje, olho pra trás e não acredito que em 6 anos dei conta de fazer tanta coisa que não fiz em tantos anos que passei em Fortaleza depois que saí da faculdade. Hoje vejo claramente que minha decisão, embora dolorosa pelo distanciamento físico das pessoas da família, foi a melhor de todas. Para mim e para eles, que hoje olham orgulhosos pra mim e pro que eu tenho conseguido construir. Tenho certeza que com vc será da mesma forma. Curta esse tempo, esse tempo de agora! Beijinhos.
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