Ontem falei de minha mãe, que sendo avó faz as vezes de mãe, e fazendo as vezes de uma mãe ausente, voluntariamente ausente, diga-se, não recebe o reconheciomento, nem o amor merecido, da parte do neto quase filho.
Hoje, vendo meu filho brincar, fazendo mil peripécias pela casa, especialmente fazendo de conta que telefona, tento lhe ensinar a dizer “alô, vovó”. Estranho tentar incultir nessa cabecinha a noção deliciosa desta palavra, tão repleta de significados, tão adocicada por lembranças e (por que não ?) por esquecimentos. Estranho porque esse pequenino de olhos sedentos nunca viu suas vovós. Uma voz do outro lado da linha mandando beijinhos, ou dizendo coisas carinhosas está muito longe de compor a representação desta entidade saborosa, a vovó. Como transmitir por uma imagem numa webcam a fofura do colinho da vovó?
Se, precisamente no dia das mães, vi minha mãe expresser tristeza, e nesse mesmo dia ver sua tristeza ampliada por mais uma das atitudes desconcertantes de seu neto-filho, foi também nesse dia que senti a dor aguda de ser mãe tão longe dela.
Tantos dias depois daquele domingo, que deveria ser festivo, no qual fizemos de tudo para comemorar todos juntinhos, apesar da distância, sinto uma melancolia que se arrasta preguiçosa, estica-se toda, faz a cama e definitivamente decide meter-se debaixo das minhas cobertas e abraçar-me com seus múltiplos e longos tentáculos.
Assim, fico aqui, quietinha em meu quarto, olhando meu filhote brincar feliz, indiferente aos meus ais silenciosos, à espera do dia em que asas muilticores nos levarão a um continente e ao outro, para meu filho descobrir o encanto da palavra vovó.
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