Durante alguns anos acostumei-me a identificar-me com o estereótipo da Branca de Neve, especialmente a versão de Walt Disney, com seu vestido misturando as cores básicas, saia amarela, blusa azul com mangas fofas e gola ampla e alta. Os pequeninos, ao me verem usando a vestimenta, faziam-me pensar que eu de fato era uma personagem saída de algum conto, e vivia aquela magia por alguns instantes. Depois era hora de mostrar minha cara verdadeira, vestir minhas próprias roupas e voltar a ser eu mesma, mas não sem ter de responder inúmeras vezes que não, não era eu que tinha me vestido de Branca de Neve. Os pequenos me perguntavam isso quase me pedindo que negasse, para manter viva a doce magia de ter encontrado a princesa em carne e osso em pleno pátio da escola.
Havia sempre uns pequenos mais matreiros e menos afeitos ao mundo da fantasia e que ao contrário dos amantes da fantasia, queriam que eu assumisse firmemente ter vestido uma roupa de mentirinha e me feito passar pela princesinha de cabelos cor de ébano. Ao contrário dos outros, estes queriam ter certeza de que estavam bem lúcidos e que não haviam embarcado nessa coisa infantile de crer na fantasia, na magia dos contos de fadas.
Não sei quem havia embarcado mais profundamente na brincadeira de imaginar, se aqueles que sabendo que se tratava de uma roupa falsa, queriam ter o direito ao sonho ou se os que haviam sonhado de forma tão intensa a ponto de precisar de uma afirmação categorica de que se tratava de uma brincadeira de faz-de-conta. Talvez quem embarcasse com mais profundidade fosse eu mesma, de modo a ter sempre aquela roupa guardada e sempre arranjar um jeito de encaixar a Branca de Neve nas comemorações da semana da criança. Aquela roupa tinha sua magia toda própria, pois havia sido confeccionada a quarto mãos, por mim e minha mãe. Durante anos guardei aquela fantasia, e algumas vezes contentava-me em emprestá-la a alguma amiga que precisava da personagem em algum evento. Até que em uma de suas andanças a bela roupa foi e não mais voltou.
Esta semana reencontrei minha querida personagem, desta vez em tamanho bem menor e, dentro da roupa, uma menina linda, filha de uma amiga. A pequenina Branca de Neve tem o rostinho quase idêntico à sua mãe, mas foi a mim mesma que vi pedalando sua bicicletinha, vestida de princesa. Não foi a primeira vez que a filha de uma amiga fez-me recordar meus tempos de fantasia multicolorida. A primeira vez aconteceu anos mais cedo, no primeiro aniversário de outra pequenininha.
Diante da imagem da Branca de Neve ciclista, dei-me conta de que já não caibo na personagem, já não conseguiria fazer os pequenos embercarem no encanto de encontrar a princesa em carne e osso, mesmo assim, eu queria ter comigo aquele vestido, relíquia de um tempo fora do tempo, que talvez só exista dentro de mim.
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